O Craque e o Taxista

 / 04.06.2015

“…não há relativização possível quando falamos de índole e caráter.”

Hoje, durante o café da manhã em um hotel de São Paulo, assisti pela televisão a mobilização uruguaia em prol da defesa do atacante Luiz Suárez, o canibal que tascou o dente no zagueiro Italiano no jogo que definiu a eliminação da Itália e o avanço da celeste para as oitavas da Copa no Brasil. Acontecimento em que, é bom lembrar, Suarez é reincidente.

Lugano, o capitão uruguaio, criticando de cara feia e em meio a palavrões a imprensa britânica e brasileira, que estão “condenando” o Suárez para vender jornal; o Presidente Mujica, figura caricata e admirável por vários aspectos, afirmando que o craque não foi escolhido para ser filósofo. Confesso que fiquei achando que há algo muito errado com a mundo.

Até entendo a paixão despertada pelo futebol e os ânimos inflamados na defesa da maior esperança do time uruguaio de ir mais longe na Copa. Mas tentar defender a atitude do jogador é simplesmente defender o indefensável. É como justificar o dinheiro (ou o batom) na cueca! Foi uma agressão, ponto final. Um ato bizarro em que um profissional muitíssimo bem pago e cheio de responsabilidade com patrocinadores retornou à sua fase oral e tal qual a criança no jardim da infância, mordeu o coleguinha para demarcar espaço.

Entrei no táxi pensando no caso. E conheci o Josias. Começamos a falar do fato, e ele ainda mais indignado do que eu, diz que tentar justificar o que fez Suárez é como dizer que ele, que nasceu e viveu a vida toda em Baasilândia (segundo ele, uma “boca quentíssima”, das regiões mais violentas de São Paulo) no meio do crime e da violência, tivesse permissão para roubar e matar.

Falou demoradamente sobre um monte de gente lá na comunidade que nem precisava estar no crime porque tem boa família mas está na ilegalidade, simplesmente porque são vagabundos e não se contentam em andar de carro básico, mas querem sustentar hábitos caros e o crime, além de possibilitar esses hábitos, ainda traz “status”.

É nessas horas que retomo a minha fé na humanidade e reforço a minha crença de que há esperança!

O que Suarez e Josias têm em comum?

Nada, a não ser compartilharem o destino de serem seres humanos falíveis e responsáveis por suas escolhas.

O que essa história pode trazer de reflexão? Muita coisa!

Precisamos recuperar a capacidade de nos indignar, capacidade essa tão maltratada nos últimos anos pelos piores exemplos possíveis vindos da quadrilha instalada no poder em nosso País e especializada em defender o indefensável.

Quando nossos filhos escutam esses absurdos através dos meios de comunicação, temos a obrigação de oferecer o contraponto. Não existe meio certo. Suarez cometeu uma atitude deplorável e condenável sob qualquer ponto de vista. Não, não defendo também condená-lo eternamente ao “fogo do inferno”. Mas chega de passar a mão na cabeça de quem pisou na bola.

A frouxidão moral é o que leva às distorções que, por incrível que pareça, passaram a fazer parte do nosso cotidiano sem que sequer tomemos consciência disso.

Pelo manual dos defensores dos direitos humanos com posições radicais, seria compreensível que Josias talvez tivesse razões para ser bandido. E, nesse mesmo manual, talvez Suárez seja vítima de um sistema opressor que paga a ele milhões de dólares e coloca nele a responsabilidade de carregar o time Uruguaio nas costas. Mas quando escuto o depoimento que escutei, como um presente, desse mesmo Josias, volto a enxergar o óbvio: não há relativização possível quando falamos de índole e caráter.

Os defensores dos direitos humanos xiitas que vão plantar batatas!

O certo é certo, e o errado deve ser, sempre que possível, exemplarmente punido. Essa é a premissa básica da civilidade e uma das maiores heranças que podemos deixar aos nossos filhos.

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Allan Costa
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