Nos últimos anos temos visto a ascensão da importância das Soft Skills, tanto em publicações quanto no mercado de trabalho. Soft Skills são descritas como habilidades muito mais ligadas ao lado comportamental e emocional de um determinado profissional, em contrapartida às habilidades técnicas.
Alguns especialistas defendem que esse conceito foi usado pela primeira vez na década de 70, por militares do exército dos Estados Unidos. Na ocasião, o termo foi apropriado para diferenciar as habilidades técnicas de um determinado soldado (como sua capacidade de mexer no maquinário militar) de outras habilidades como liderança e capacidade de ensinar aos outros de forma clara.
No contexto do mercado de trabalho de hoje, o conceito é utilizado para se referir a habilidades como inteligência emocional, foco, colaboração, empatia e assim por diante. Você provavelmente já leu em algum lugar que essas são algumas habilidades mais importantes do chamado “profissional do futuro”.
Até concordo quando me deparo com esse tipo de afirmação. Mas, tenho algumas ressalvas. Como tudo na vida, quando realizamos um movimento pendular que leva qualquer coisa ao extremo, corremos o risco de “passar do ponto”. E o que tenho observado é que muitas publicações têm praticado um quase “endeusamento” das soft skills, elevando-as a um patamar que passa a sensação de que são as únicas habilidades necessárias a esse “profissional do futuro”.
É quase como afirmar que ter inteligência emocional, foco, poder de colaboração e empatia são suficientes para uma carreira de sucesso. Não são.
Entendo perfeitamente todo o hype em torno do tema. Por muito tempo as soft skills foram negligenciadas pelo mercado de trabalho em favorecimento das hard skills. Se você era um bom executor de uma determinada tarefa ou então tinha um conhecimento técnico profundo, aquilo já era, na maioria das vezes, suficiente. Contudo, muitas das regras que valiam para o mundo do trabalho no século XX não se aplicam ao século XXI.
A partir do momento em que começamos a adicionar mais e mais tecnologia em nosso cotidiano e nos processos de nossas empresas, o lado humano de cada profissional foi se tornando cada vez mais relevante. O mundo dos negócios e do trabalho se tornou complexo demais para ser gerido apenas pelas “leis” das hard skills.
O acesso à informação e a competitividade aumentaram. Como consequência, as habilidades que nortearam o mercado de trabalho no século passado foram se tornando insuficientes para esse novo mundo.
Perceba que eu usei a palavra “insuficientes” e não “inúteis” ou “irrelevantes”. Quando algum profissional (e aqui me refiro principalmente aos jovens, entrando ou buscando entrar no mercado de trabalho) lê alguma reportagem ou manchete com título “Essas são as habilidades do futuro” e se depara com habilidades como criatividade, comunicação, colaboração etc, ele pode erroneamente pensar que essas são as únicas habilidades do futuro e que apenas com esse conjunto ele conseguirá uma carreira de sucesso.
Acredite, tenho visto isso acontecer. E não é pouco.
Meu objetivo com essa reflexão é chamar atenção para a necessidade de buscar um ponto de equilíbrio nessa história toda: o fato das soft skills terem crescido em importância nos últimos anos (e esse crescimento deve continuar) não significa que as hard skills se tornaram irrelevantes.
Você ainda precisa ser tecnicamente bom em várias coisas para ser bem-sucedido. Possuir diversas habilidades do lado comportamental e atitudinal sem conhecimento técnico específico, pode te transformar em um colega de trabalho extremamente colaborativo, agradável e empático… Mas que, no fim do dia, não entrega resultados. E sabemos o que acontece com quem não entrega resultados dentro de uma empresa.
Por isso, não poderia deixar de ser um árduo defensor das soft skills. Coisas como a empatia, por exemplo, tornaram-se poderosos diferenciais para profissionais que querem se destacar no mercado de trabalho do século XXI. Mas, ao mesmo tempo, é ingenuidade simplesmente descartar as hard skills, como se esses dois conjuntos de habilidades fossem excludentes. Não caia nessa.
Não negligencie as soft skills, transformando-se em um robô corporativo.
Mas, ao mesmo tempo, ao se deparar com o discurso sedutor desse tipo de competência, não jogue tudo para o alto e pare de investir em suas habilidades técnicas. Procure tornar-se tão bom quanto possível naquilo que você escolheu apostar sua carreira.
Soft skills e hard skills devem andar juntas. Como (quase) tudo na vida, o segredo aqui é o equilíbrio
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