O Vale do Silício é um lugar quase místico para todos aqueles que gostam de negócios e tecnologia. Adobe, AMD, Google, Apple, Facebook, HP, Intel, Intuit, Netflix, Oracle, PayPal, Salesforce, Tesla, Twitter, Visa… Todas elas foram criadas no Vale.
É comum ouvirmos gestores perguntando, por exemplo: “Como podemos criar o próximo Vale do Silício?”. Já adianto aqui a minha resposta: Não podemos. E isso é algo positivo. Vou explicar mais logo abaixo.
Antes, é bom falar um pouco sobre o próprio Vale do Silício. O início do Vale como conhecemos hoje pode ser datado a partir da história dos Oito Traidores.
Os Oito Traidores foram oito empregados do Shockley Semiconductor Laboratory que deixaram o laboratório em 1957. Os oito haviam sido recrutados por William Shockley para que eles ajudassem a desenvolver novos produtos utilizando semicondutores. Contudo, o estilo de gestão autoritário de Shockley fez com que os oito profissionais largassem as pesquisas e fundassem a Fairchild Semiconductor, empresa que logo começou a fazer sucesso na região.
Em 1960 a Fairchild tornou-se uma incubadora de empresas e esteve diretamente ligada ao surgimento de companhias como Intel e AMD.
Gigantes de Venture Capital, como Sequoia e Kleiner Perkins foram fundadas nos anos 70. A Sequoia já investiu em 250 empresas desde 1972, que hoje possuem um valor de mercado combinado de 1.4 trilhão de dólares.
A Kleiner Perkins investiu em pelo menos 900 empresas desde 1972, dentre elas, as gigantes Amazon e Google.
Aqui vão duas coisas sobre o Vale:
– A primeira delas é a mais óbvia: O Vale do Silício é um ECOSSISTEMA. Existe muita coisa para aprendermos com o Vale, mas também existem muitos mitos. É um erro analisarmos a região isolando seus elementos.
Ou governo, ou empreendedores, ou empresas, ou VCs, ou espaços físicos, ou universidades.
O Vale é um “amontoado” de milhares de instituições e players jogando juntos.
Governo E empreendedores E empresas E VCs E espaços físicos E universidades.
A Universidade de Stanford, uma das mais prestigiadas do mundo, por exemplo, foi (e ainda é) essencial para formação do Vale. Segundo Ron Johnson: “Stanford é realmente o epicentro do Vale, e a maioria das empresas, as pessoas dessas empresas, tinha uma conexão com Stanford”.
Essa ideia de ecossistema acabou por influenciar diversos outros ecossistemas de tecnologia e inovação ao redor do mundo. Ao redor do globo, podemos citar os exemplos de Tel Aviv, em Israel; Berlim, na Alemanha; Shenzhen, na China; e Estocolmo, na Suécia. No Brasil, alguns dos mais famosos são os ecossistemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Curitiba, Florianópolis e Belo Horizonte.
E aqui está a segunda coisa importante sobre o Vale: Ele não pode ser copiado. Na verdade, outros ecossistemas deveriam tentar parar de querer copiar o vale simplesmente por copiá-lo. John Battelle, um dos fundadores da Wired Magazine, costuma dizer que “Na sua essência, o Vale do Silício é uma cultura”.
Cultura de tecnologia. Cultura de investimentos. Cultura de riscos. Cultura de integração entre dezenas de players diferentes.
Marc Andreesen, uma das figuras mais emblemáticas do Vale do Silício, dizia que, ao invés de tentarmos criar mais vales, deveríamos buscar criar “50 diferentes variações do Vale do Silício, todos únicos em sua essência e todos focando em diferentes áreas”. Ele sugere, por exemplo, que Detroit utilize sua expertise em automóveis, tão famosa há algumas décadas, para agora focar em desenvolver o “Drone Valley”.
A ideia é: Utilizar os conceitos de sucesso do Vale + as especificidades cada região.
Governo E empreendedores E empresas E VCs E espaços físicos E universidades… Atuando juntos, como um grande organismo vivo, para resolver os grandes problemas. O que cada região tem a adicionar a essa equação?
Imagino, por exemplo, que o ecossistema paulista tenha muito a desenvolver e ensinar nos quesitos de serviços financeiros e mobilidade (para citar apenas dois). O Vale traz, sim, importantes lições para todos aqueles interessados em inovação e tecnologia. Mas, ao invés de vê-lo como um lugar místico, prefiro enxergá-lo quase que como um ponto de partida.
A conclusão talvez seja uma: Menos misticismo e mais atitude. Não adianta achar que apenas lançar uma dezena de hackathons irá, magicamente, criar o mais novo pólo inovador do planeta.
O Vale é resultado de iniciativas que começaram há mais de 50 anos. Milhões de pessoas, entidades e empresas construíram o ecossistema durante mais de cinco décadas.
As invenções e lições tiradas de lá abriram caminho para uma nova Era. O que faremos a partir daqui?
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