Boring is Sexy: As Armadilhas do Deslumbre pelo Empreendedorismo

 / 06.12.2022

O universo de startups e empresas de tecnologia é fascinante. Estou dentro deste espaço há muitos anos, tanto como empreendedor, como executivo e também como investidor. Contudo, reconheço também que este espaço pode passar uma ideia errada para muitos empreendedores e este é um assunto que pretendo tratar no artigo de hoje. 

Se você é um empreendedor iniciante ou um fundador criando sua primeira startup, é bem possível que você utilize publicações online e sites de negócios especializados em cobrir startups e empresas de tecnologia como boas fontes para pensar nas suas estratégias, modelos de negócio e assim por diante. Isso pode sim, ser positivo, por ampliar seus horizontes e trazer referências. Mas pode também ser uma armadilha. 

Primeiro de tudo: Survivor Bias.

Podemos traduzir este elemento para algo como “Viés do Sobrevivente”. Boa parte das startups e empresas de tecnologia que viram cases e saem nas notícias são aquelas bem-sucedidas. Contudo, as outras 99% que faliram ou não alcançaram product-market fit geralmente não saem nas notícias. Por isso, temos a tendência de achar que as coisas podem ser mais fáceis do que realmente são. 

Além disso, outro viés extremamente perigoso é querer ser muito disruptivo. 

Todos querem ser o próximo Mark Zuckerberg… Mas isso é algo extremamente difícil e raro. Criar um negócio disruptivo envolve altíssimo risco e dá certo em pouquíssimos casos. Isso é algo bastante presente nas conversas com empreendedores mais jovens: a impressão de que qualquer um pode se tornar o fundador do próximo unicórnio. E acham que seus negócios tem que, necessariamente, ser tão disruptivos quanto o Facebook, a Amazon, o Google ou a Apple. Enquanto, na vida real, o objetivo deveria ser criar valor para um grande grupo de clientes de maneira escalável.

Um exercício interessante que sempre apresento para os empreendedores nesse estágio é falar de empresas muito grandes, tremendamente lucrativas, que produzem muito valor para seus clientes e acionistas,  mas que não estão todos os dias nas notícias.

Muitas dessas empresas são extremamente boring, ou entediantes: seja em seus produtos, seja em seus modelos de negócio. Elas não são extremamente disruptivas, não tem um efeito viral e seus fundadores não são Forbes 30 Under 30. Contudo, são companhias extremamente sólidas e com produtos muito utilizados por seus clientes. 

Aqui, dou um exemplo que vivo na pele todos os dias: uma das empresas da qual sou sócio e onde atuo com função executiva, a ISH Tecnologia, é uma empresa de cibersegurança, a maior do Brasil e uma das maiores da América Latina, e possui como clientes muitas das maiores empresas do Brasil, em vários setores e segmentos. 

Geramos quase mil empregos, e há vários anos, crescemos muito acima do mercado e somos lucrativos. Somos, de certa forma, disruptivos em nossos produtos e serviços. E nem poderia ser diferente em um setor tão competitivo. Mas nosso negócio é muito mais boring do que boa parte das startups ultra-disruptivas que saem nas notícias por aí, geralmente, não estamos na linha de frente dos sites de notícias sobre startups.

Em contrapartida, somos um negócio sólido, com faturamento alto, lucro consistente e produtos de ponta. Enquanto a ampla maioria das startups sexy que são assunto hoje, desaparecem sem deixar rastros no dia seguinte.

Muitos fundadores e startups poderiam tentar ter uma visão mais boring das coisas. 

É fácil nos iludirmos e pensarmos que agora toda empresa precisa ser revolucionária assim como a Apple e a Amazon. Apple existe apenas uma e Amazon existe apenas uma. Mas negócios sólidos, convencionais, atuando em indústrias tradicionais, com modelos de negócio bem estruturados… estão por aí aos milhares, desde que o mundo é mundo, crescendo e criando valor.

Boring is Sexy: pense sempre como você pode aplicar disrupção onde realmente é necessário. Para todo o resto, seja pragmático. E ser pragmático muitas vezes irá significar calar a tentação em ser ultra diferente e ultra revolucionário e fazer processos chatos, mas que já estão no mercado há anos e que dão certo.

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Allan Costa
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