Não transforme o debate tecnológico em um debate de extremos

 / 31.08.2021

Ao longo dos próximos anos, quando este debate se intensificar, lembre-se que tecnologias são instrumentos, não fins. Elas não possuem um polo moral implícito, como alguns podem querer fazer parecer. Elas apenas são.

Não gosto muito de fazer previsões. Acho a maioria delas uma furada e, aqueles que gostam de fazê-las quase nunca sofrem as consequências por estarem errados. É a famosa falta da “pele em risco” sobre a qual Taleb tanto fala. Tentar prever o futuro é um exercício interessante mas, na maioria das vezes, em grande parte, inútil.

Hoje, contudo, gostaria de fazer uma previsão simples: o debate ideológico em torno da tecnologia se tornará mais acirrado e extremo ao longo da próxima década.

Falo isso baseado em tudo o que já está acontecendo e também como uma forma de alerta, pois acho esse tipo de posicionamento um tanto perigoso.

Parece que vivemos em tempos em que se tornou o padrão politizar todo e qualquer debate. Tudo virou política e, na cabeça de alguns, a política virou tudo, tendo que estar presente em todo e qualquer debate ou espectro social. Com a tecnologia não poderia ser diferente.

Não que essa seja uma situação nova: desde o surgimento da internet e de tecnologias posteriores, como os smartphones, vimos reiteradamente a tentativa de inserir visões extremas para o uso de cada uma delas.

Contudo, isso tem se intensificado nos últimos anos: a tentativa de definir tecnologias como boas ou más por definição, colocando-as em lados opostos, dependendo de quem está falando. Defendo e continuarei defendendo a minha posição: a tecnologia é neutra, o uso que fazemos delas é que muda tudo.

Tecnologias de vigilância e cibersegurança podem ser muito úteis para diminuir atividades criminosas. Mas podem também ser utilizadas por governos autoritários para diminuir a liberdade de seus cidadãos.

Criptomoedas podem ser um instrumento de liberdade financeira revolucionário para pessoas que vivem em países com alta inflação e governos tirânicos, mas podem também ser usadas como argumentos para a construção de golpes financeiros milionários.

Não deixe que o debate sobre as tecnologias percorra um caminho semelhante ao debate político: ou você é X, ou é Y. Como se não houvesse meio termo e tudo precisasse estar dentro de caixinhas.

Esta é uma visão preocupante por que tira o foco do debate do que realmente importa: como a tecnologia pode nos ajudar a inovar e resolver os problemas da sociedade. As redes sociais não são boas ou más per se. O uso que cada um faz delas é que pode ter diferentes objetivos e consequências. O mesmo vale para smartphones e jogos.

Ao longo dos próximos anos, quando este debate se intensificar, lembre-se que tecnologias são instrumentos, não fins. Elas não possuem um polo moral implícito, como alguns podem querer fazer parecer. Elas apenas são.

O que fazemos a partir disso e como podemos utilizá-las para melhorar nossa sociedade, trazer mais oportunidades para aqueles que não as possuem e resolver nossos problemas no dia a dia é o que realmente importa.

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Allan Costa
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