David X Golias

 / 04.06.2015

“As pequenas empresas não são vistas como receita de crescimento e competitividade nos países desenvolvidos por acaso. Entretanto, há um longo caminho a ser percorrido no Brasil.”

Tal como no episódio bíblico de Davi e Golias, imaginar que pequenas empresas podem sair vitoriosas na competição com grandes corporações pode parecer uma utopia distante à primeira vista. Entretanto, da mesma forma que o pequeno pastor derrotou o gigante usando inteligência e as condições existentes a seu favor, as Pequenas Empresas possuem vantagens importantes que podem e devem ser usadas em seu benefício. A seguir, cito algumas delas:

  •  Velocidade: a estrutura enxuta e normalmente mais informal das pequenas empresas favorece enormemente a sua velocidade. Grandes empresas tem enorme dificuldade para reagir a mudanças no ambiente de negócios e para conseguir se posicionar para aproveitar novas oportunidades. Pequenos negócios, ao contrario, podem se reposicionar rapidamente e estar prontas para ” surfar novas ondas”  ou para explorar novas oportunidades em um piscar de olhos. O processo decisório é muito mais ágil e efetivo e a disseminação das diretrizes por toda a empresa é muito mais efetiva e envolvente. Que oportunidades estão surgindo no seu setor? E em outros setores? Que segmentos de clientes estão surgindo e trazendo a reboque alto potencial de consumo no médio prazo? Que recursos precisam ser mobilizados para aproveitar estas oportunidades? A resposta a estas perguntas podem sinalizar um caminho que poder ser percorrido pelas pequenas empresas com maior probabilidade de sucesso do que pelas grandes empresas;
  • Ambidestralidade: o conceito de empresas ambidestras é recente e, apesar da expressão “difícil”, simboliza empresas que conseguem, ao mesmo tempo, ser inovadoras e eficientes do ponto de vista dos processos estruturados. Parece simples, mas não é. Um dos pressupostos de organizações criativas e inovadoras reside num certo nível de caos e desorganização, já que este é um pré-requisito básico para a geração de ideias. Do outro lado, organizações que pretendem ser verdadeiramente eficientes precisam de processos formalmente estruturados, sistematizados e, geralmente, baseado em “melhores praticas”. Assim, fica evidente a dificuldade de conciliar estas duas características em um mesmo ambiente. As grandes empresas tem investido milhões de reais em consultoria e modificação de processos com o intuito de se tornarem minimamente ambidestras. Já nas pequenas empresas, basta estar disposto. A concentração de funções em poucas pessoas normalmente característica de pequenos negócios, torna mais fácil moldar o comportamento e as atitudes dos colaboradores para o estabelecimento de uma cultura que reflita de forma bastante efetiva essa ambidestralidade. Como no caso da qualidade, criar uma empresa ambidestra começa pela conquista dos corações e mentes dos colaboradores, a partir de práticas implantadas pela alta gerência. Em empresas com poucos colaboradores, este processo pode ser muito mais dinâmico e efetivo;
  • Colaboração: a realidade do ambiente competitivo torna quase impossível para grandes corporações colaborarem de forma efetiva. Salvo exceções, em geral localizadas em setores específicos, grandes empresas percebem empresas que atuam no mesmo setor como adversários mortais que devem ser, de alguma forma, aniquilados. No caso de pequenas empresas, existem varias oportunidades de colaboração com outras pequenas empresas no mesmo segmento ou em segmentos diferentes. Essa colaboração pode ter como objetivo o desenvolvimento de produtos e/ou serviços complementares, a ampliação da proposta de valor para atingir novos segmentos de clientes ou simplesmente aumentar o poder de barganha de empresas trabalhando em rede. Neste caso, fica evidente que o maior problema da pequena empresa não é ser pequena, mas sim, ser sozinha;
  • Capacidade de improviso: alguém consegue imaginar uma Toyota ou uma Coca-Cola improvisando no que quer que seja? Controles rígidos e inflexíveis são uma característica inerente a grandes corporações, onde há, por natureza, uma certa aversão ao risco. Entretanto, o ambiente de negócios é cada vez mais dinâmico e apresenta desafios cada vez maiores e mais complexos e que mudam com enorme velocidade. Ai esta a oportunidade para os pequenos negócios. Muitas vezes, a chave para aproveitar “oportunidades-relâmpago” é a capacidade de improvisar, algo que é definitivamente inatingível por uma grande empresa;
  • Proximidade: grandes empresas estabelecem relacionamento próximo com seus clientes na base dos call centers, em geral com atendentes mal preparadas e que apenas cumprem um papel brilhante no processo de afastar clientes. Qualquer pessoa que já tentou apresentar sua necessidade a uma empresa de telefonia fixa ou móvel ou a operadoras de cartões de credito sabe do que eu estou falando. Aí está outra imensa oportunidade para pequenos negócios: criar intimidade e estabelecer um relacionamento verdadeiramente próximo com seus clientes. Este é, sem duvida, o maior fator conhecido de retenção de cliente. E, uma vez mais, esta prática está a anos-luz do alcance de grandes empresas e seus serviços de tele atendimento.

As pequenas empresas não são vistas como receita de crescimento e competitividade nos países desenvolvidos por acaso. Entretanto, há um longo caminho a ser percorrido no Brasil. Se em países como Espanha e Itália a participação das pequenas empresas no PIB já atingiu índices de 50%  e 55%, respectivamente, no Brasil ainda estamos estacionados em 20%. A observação e exploração das oportunidades acima pode ajudar a contribuir para acelerar o desenvolvimento das nossas pequenas empresas e para aumentar a sua fatia na geração de riqueza do nosso País.

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Allan Costa
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